Candidato do PSDB propõe elaboração e distribuição do "Kit Macho" e do "Kit Fémea"
Nestas eleições, dentre as “asquerosidades” que
surgiram, encontra-se a proposta do “Kit Macho” e do “Kit Fêmea”. Trata-se de
uma espécie de material elaborado pelo empresário Matheus Sathler, candidato a
deputado federal pelo PSDB do Distrito Federal. O vídeo no qual o
candidato aparece mostrando um documento de fé pública, assinado em cartório,
se comprometendo em empregar metade de seu salário para “o combate e a
recuperação de crianças vítimas do estupro pedófilo homossexual”, tem sido
visto e divulgado amplamente nas redes sociais. O mesmo se passa com sua
participação no programa eleitoral gratuito do rádio e TV no qual o candidato
defende abertamente esta proposta. Não é á toa que o candidato estampa nas
redes sociais fotos suas ao lado de Jair Bolsonaro (PP), declaradamente
contrário aos direitos civis de LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Transgêneros).
De acordo com matéria publicada pelo jornal
“Estadão”, de 28-07-2014, o candidato se declara “liberal-econômico que
acredita na força do empreendorismo”, o que reafirma sua identidade política
com o PSDB. Na mesma matéria, afirma que “a bandeira LGBT nunca fez parte
historicamente do partido” e que “o PSDB é o partido que tem mais vereadores
pastores cristãos” e completa afirmando que a bandeira LGBT “sempre foi do PT,
do PSOL e do PSTU”.
Qual a utilidade dessa proposta?
De acordo com o candidato, o “Kit Macho” é um
material para “prevenir o homossexualismo”, além de “ensinar nossa crianças a
ter seus papeis corretos de sexo.” Esta curta afirmação contém uma série de
confusões e falsificações.
Em primeiro lugar no que se refere ao termo por
ele utilizado para designar a orientação sexual homossexual. Ao utilizar o
vocábulo “homossexualismo”, resgata ideias pseudocientíficas de fins do século
XIX. Neste período a palavra vinha carregada de conotação médica, ligando a orientação
sexual homossexual a uma patologia, ou seja, a doença. Com o avanço da ciência,
das pesquisas sobre a questão e da luta organizada do movimento LGBT, em 1990 a
O.M.S. (Organização Mundial da Saúde) exclui o termo de sua lista de distúrbios
mentais, reconhecendo, portanto, não se tratar de uma doença.
É fato que o sufixo “ismo”, de origem grega,
além de denotar patologia, pode indicar, como aponta o dicionário Aurélio,
“doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso”.
No entanto, não se trata simplesmente de uma questão terminológica, pois a
língua também é campo de batalha ideológica. Neste sentido, o combate ao uso do
termo “homossexualismo” envolve outras questões que vão além da puramente
linguística. É parte disso, por exemplo, questões históricas, etimológicas,
científicas e, sobretudo, políticas. Há mais de trinta anos o movimento LGBT
organizado luta para que seja utilizado o termo “homossexualidade” por entender
que este diminui a carga preconceituosa e discriminatória. Como se nota, antes
de qualquer coisa, trata-se de um combate político pela afirmação da identidade
LGBT.
Uma vez compreendido não se tratar de doença,
afirmar que um material ou qualquer coisa que o valha, possa “prevenir” a
homossexualidade é um absurdo ainda maior. Para além da falsa ideia de
patologia, há que se levar em conta o fato de que a homossexualidade sempre foi
parte integrante da sexualidade humana, inclusive aceita e respeitada em
diversos períodos históricos, como nas sociedades fundacionais e na antiga
sociedade grega. Diversas pesquisas apontam que a homossexualidade e a
transexualidade sempre existiram, o mesmo não se passando com a LGBTfobia. O
preconceito e a discriminação, estes sim, são resultantes de alterações nas relações
de poder que se desenvolveram historicamente.
Esses apontamentos nos levam a concluir que a
finalidade última desses materiais é manter e aprofundar a opressão contra
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Perpetuar esta e outras
formas de opressão é fundamental para manter o sistema capitalista, pois as
opressões dividem a classe trabalhadora. Assim dividida, a classe é
enfraquecida para lutar pela emancipação de todas e todos. Além disso, as
opressões são utilizadas pelo capitalismo para super explorar uma parte
significativa da sociedade. Utiliza-se da ideologia machista, por exemplo, para
pagar salários inferiores as mulheres, o mesmo com relação ao racismo e a
LGBTfobia.
Thiago Clemente Amaral - Secretaria LGBT do PSTU. Em São Paulo é candidato a Deputado Estadual 16.122
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